O jovem russo que criou no Silicon Valley a Google e desafiou
a Alta Vista e a Inktomi

«Pretendemos continuar independentes», afirma Sergey Brin

Em dois anos, o que começou por ser um projecto de investigação de dois jovens doutorandos em Stanford acabou na máquina de procura recomendada pela Yahoo! e a Netscape

Destaques:

  • Disponível em WAP desde há 6 meses
  • Em teste reconhecimento de voz para Portais Vocais
  • Opção por Linux
  • Focalização acima de tudo
  • 25 línguas disponíveis (incluindo o português de Portugal) automaticamente com reconhecimento da localização do "browser" do utilizador
  • Jorge Nascimento Rodrigues com Sergey Brin do outro lado da Net

    O Yahoo! reconheceu-a como a melhor máquina de procura e fechou contrato com ela, abandonando a Inktomi. A Netscape ainda recentemente celebrou com ela um acordo estratégico. Em dois anos, a jovem Google desalojou do pódio as veteranas Alta Vista e Inktomi.

    Ganhou um Webby (equivalente aos Óscares de Hollywood, neste caso para a Web e entregues em São Francisco) por excelência técnica, a revista Time deu-lhe honras de destaque em Agosto passado (2000) e entrou, agora em Setembro, para a galeria do "melhor da Web" das revistas Forbes e PCWorld.

    Nasceu, naturalmente, no Silicon Valley, tendo sido mais um dos filhos do "campus" da Universidade de Stanford. E uma vez mais um duo - Sergey Brin, nascido em Moscovo, e Larry Page - deixaram a meio um doutoramento para criarem em 1998 uma "start-up", do mesmo jeito que, anos antes, David Filo e Jerry Young criaram o Yahoo!

    A Google já tem versões em 25 línguas - se o leitor em Portugal digitar www.google.com a partir do seu "browser", surgirá automaticamente a versão em língua portuguesa. Conta com mais de 80 clientes em 20 países e factura em função da procura realmente realizada. Apostou em ter uma publicidade discreta e muito dirigida. A sua interface é muito simples, sem quaisquer pretensões de "portal". O seu objectivo - nas próprias palavras de Sergey Brin, em entrevista exclusiva à Janela na Web e ao Expresso - é que o utilizador perca o menos tempo possível na procura. Por isso, não apostam em nada que o distraia disso.

    PERFIL
    Larry Page e Sergey BrinSergey Brin criou o Google há dois anos, quando tinha 25 anos e estava a meio de um doutoramento na área da pesquisa na Web, tendo inclusive publicado diversos artigos científicos.
    Nasceu em Moscovo, mas veio aos 6 anos para os Estados Unidos. «Não tenho planos, no imediato, para regressar à Rússia», disse-nos.
    Formou com o colega de doutoramento e de investigação Larry Page, dois anos mais velho, um novo duo famoso saído do "campus" de Stanford - há mais de 60 anos foram Hewlett e Packard, mais recentemente David Filo e Jerry Young, os criadores do Yahoo!, de quem Brin e Page são, aliás, amigos.
    O nome escolhido para a máquina de procura foi também original. Google vem de googol, um termo inventado pelo matemático norte-americano Edward Kasner que significa 10 elevado à potência 100, o que simboliza a imensidão do que é a Web.
    Duas das veteranas do capital de risco do Silicon Valley, a Sequoia Capital e a Kleiner Perkins Caufield & Byers, apostaram nesta 'start-up' de Mountain View.

    Sergey Brin Como lhe ocorreu a ideia de criar o Google? Foi o "efeito yahoo" que também vos tocou aí no "campus" de Stanford?

    SERGEY BRIN - O Google nasceu como ideia em 1995 como parte de um projecto de investigação para doutoramento em que eu estava a trabalhar com Larry Page - o outro fundador - na Universidade de Stanford. Nós estávamos profundamente frustrados com as máquinas de procura existentes naquela altura. E decidimos construir uma mais avançada e mais rápida, e com melhor qualidade dos "links" fornecidos. Acabámos por a lançar há dois anos atrás (1998).

    Qual é a vossa principal vantagem?

    S.B. - Creio que são duas - e não só uma: a relevância das respostas à procura e a simplicidade do ambiente. Os utilizadores frequentemente enviam-nos "e-mails" a agradecerem-nos pelo facto do Google lhes permitir encontrarem o que procuravam, sem os distrair com outros pormenores menos importantes.

     TOP 5 em Número de Páginas 
    (unidade: milhões)
     Google 550 
     Inktomi 500 
     Webtop 500 
     Alta Vista 350 
     Excite 250 
     TOP 5 de Indexadores da Web 
    (% páginas indexadas)
     Google 55% 
     Inktomi 50% 
     Webtop 50% 
     Alta Vista 35% 
     Excite 25% 









    A Alta Vista parece, aliás, ter acusado o "toque" da vossa concorrência, ao decidir-se recentemente por uma reestruturação e uma focalização no negócio da pesquisa na Web. Qual é a "lição" que se pode tirar daqui?

    S.B. - A focalização é algo de fundamental em todas as áreas. Esse aspecto estratégico é algo que tomamos muito a sério no nosso negócio.

    Vocês, de facto, parecem recusar o modelo de "portal" em que muitas máquinas de procura se transformaram. Continuam a ter uma interface muito simples...

    S.B. - A focalização é o nosso objectivo central. O que queremos é que o utilizador permaneça no Google o menor tempo possível, que saia o mais rapidamente para os "links" do que procurava, e que volte sempre que precisa de procurar, porque ficou satisfeito com os resultados das nossas indicações.

    Como é que avalia a Alta Vista de hoje?

    S.B. - Ela foi um inovador pioneiro neste mercado das máquinas de pesquisa. Mas, desde aí, deixou de inovar.

    Esperam vir a ser adquiridos por um "tubarão" ou vão seguir as pegadas da Yahoo! e da Amazon.com e procurar continuar independentes?

    S.B. - A pesquisa é a principal aplicação da Web e a segunda mais comum em toda a área da Internet. Com este panorama, a nossa esperança é criar uma empresa lucrativa que possa sustentar a sua independência a longo prazo.

    Porque é que optaram pelo sistema operativo Linux na vossa bateria de mais de 5000 PC?

    S.B. - Oferece-nos a melhor relação performance/preço. E gostamos do facto de podermos "customizar" a fonte do código sempre que o quisermos. Temos feito algumas modificações, desde que começámos a utilizar o Linux desde há dois anos.

    Estão preparados para o WAP sobretudo nos mercados europeus e asiáticos altamente "telemovilizados"?

    S.B. - Nós oferecemos uma máquina de procura para todos os utilizadores de WAP. Desde há seis meses que a temos disponível. O Google permite ver páginas HTML e WML (o equivalente ao HTML para WAP), o que é pioneiro. Nós criámos tecnologia própria que converte o HTML num formato visível nos telefones móveis. Por outro lado, permitimos fazê-lo, também, em diversas línguas asiáticas - como o japonês, coreano e chinês. Temos, também tecnologia para fazer a sua procura no Google a partir dos Palm V e VII e também no novo tipo de aparelhos comunicacionais, como o ePodsOne da ePods, para quem somos a máquina oficial de pesquisa.

    E em relação aos portais vocais do futuro, qual é o vosso posicionamento?

    S.B. - Estamos, precisamente, a testar nos nossos laboratórios tecnologia de reconhecimento de voz. Em breve, vamos disponibilizá-la quer para as máquinas tradicionais na Web como para o sem fios.

    Em relação ao mundo de língua portuguesa e hispânica qual é a vossa estratégia?

    S.B. - A América Latina é um mercado estratégico para nós. Brasil e Argentina são dois mercados sob observação atenta do Google. O mercado latino americano é actualmente a área de crescimento mais acelerado da Internet. Estamos muito optimistas em relação a este mercado e muito empenhados em criar tecnologia para estes utilizadores.

    Googloplex - o escritório das bolas gigantes
    Íamos à procura de um insuflável gigante em pleno Silicon Valley onde trabalhariam os sortudos da Google. Demos várias voltas pela Bayshore Parkway, em Mountain View, mas nada. Nem sombra de tenda.
    Ao fim de meia hora, fomos à morada onde estava o logotipo da Google (o 2400) e, meio frustrados, demos com mais um escritório típico do Vale, mas nem sombra de insuflável.
    O ambiente era, no entanto, original, logo que entrámos e estendeu-se por todo o espaço da Google. Muito informal, cheio de animação, bicicletas encostadas às divisórias, muitos pinguins da Linux, Sergei trabalhando num dos escritórios laterais (igualzinho aos outros), e os crâneos da Google em agitação febril.
    O mais espantoso eram as bolas gigantes espalhadas pelos corredores.
    A «gafe» estáva explicada. Os insufláveis gigantes eram as bolas... e não o edifício. Má audição telefónica e pior tradução do inglês. A risada que nos provocou foi certamente do tamanho da sua que agora nos está a ler.
    Em suma, uma «gafe» insuflável que originaria o título inicial desta caixa publicada uns meses (em 2000) antes de termos visitado o Google em Fevereiro de 2001.
    Fica aqui a rectificação e o pedido de desculpas aos leitores do Expresso e da Janela na Web.

    O ambiente é invulgar. Há classes de ioga, massagens, bares, máquinas de gelado gratuito por todo o lado, comida confeccionada com alimentos orgânicos por dois chefes de cozinha (um deles trabalhara para o grupo musical Grateful Dead), uma mesa de pingue-pongue, piscina, dois pianos e jogos de hóquei duas vezes por semana.

    «Atrair empregados de 'top' é muito difícil aqui no Silicon Valley. Oferecer um local agradável para trabalhar duramente, motiva o pessoal e encoraja a retenção e fidelização dos empregados. Ajuda também imenso para o recrutamento. Os candidatos ficam absolutamente extasiados», diz-nos Sergey Brin.
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