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Marcos Cavalcanti

A sociedade do conhecimento no seu dia-a-dia


Enviado por Marcos Cavalcanti -
26/10/2008
-
19:31

Avaliando intangiveis para separar o joio do trigo

Com o fim do processo eleitoral para as prefeituras, vamos continuar a construir um caminho para a sociedade do conhecimento. Na próxima quarta-feira, dia 29 de outubro, às 17:30h, será lançada a edição de n° 32 da Revista Inteligência Empresarial, inteiramente dedicada ao tema de Avaliação de Ativos Intangíveis. O evento será no BNDES (Av. Chile, 100 - Centro).

No meio desta crise internacional é fundamental separar o joio do trigo: o cassino financeiro, embora intangível, não tem a mesma lógica de produção de valor que o capital humano, a capacidade de inovação e da rede de relacionamentos, que embora também sejam intangíveis, produzem riqueza.

No evento apresentaremos a metodologia desenvolvida pelo Crie, em parceria com o BNDES, para incorporar os intangíveis à metodologia de avaliação de empresas utilizadas pelo banco. A metodologia foi aplicada na Embraer, Suzano Papel e Celuse, Totvs (maior empresa brasileira de tecnologia da informação) e Genoa (empresa paulista de Biotecnologia) e em mais 36 empresas da carteira do BNDES, com grande sucesso.

No evento serão também apresentados detalhes da nova linha de financiamento à inovação do BNDES, destinada a estimular a construção de ativos intangíveis por parte das empresas.

O debate (gratuito) contará com a presença de:

  • Eduardo Rath Fingerl - Diretor de Mercados de Capitais, de Tecnologia da Informação e Processos, de Capital Empreendedor e pela Secretaria de Gestão de Projetos do BNDES
  • Helena Tenório - chefe do departamento de Políticas e Programas do BNDES
  • José Arnaldo Deutscher - pesquisador do Crie, autor da tese de doutorado "Uma metodologia de Avaliação de Ativos Intangíves"
  • Marcos Cavalcanti - Crie


Para garantir sua participação é necessário confirmar presença com Ralph Calvert por e-mail (ralphcalvert@crie.ufrj.br) ou por telefone (2562-7843).

Nos vemos por lá!!!!


Enviado por Marcos Cavalcanti -
26/10/2008
-
11:59

A ONDA VERDE em Copacabana

Acebei de votar. Fui do início de Copacabana até o posto 6, onde voto. No caminho de ida e de volta, cruzei com centenas de pessoas vestindo verde. Para 57 delas eu falei: Gabeira! E para 100% delas a resposta foi um polegar virado para cima, confirmando o seu voto. O valor estatístico desta mostra é nenhum! Mas já era um indício.

Cada rodinha com mais de 3 pessoas eu passava perto, discretamente, para saber do que falavam. Invariavelmente era sobre quem as pessoas tinham votado. E mais uma vez, em mais de 70% dos casos, o voto era em Gabeira. O curioso aqui é que a maioria esmagadora destas rodinhas era de pessoas idosas.

Tudo isto acontecia em silêncio. Sem bandeiras ou carros de som. Parecia que só faltava uma centelha... E ela veio quando cruzei a Constante Ramos com a Nossa Senhora de Copacabana. Duas Pajeros Mitshubishi pretas, com bandeiras do outro candidato estavam paradas no sinal. Não resisti e gritei forte: Gabeira! Eles cometeram o desatino de responder. Pra quê! Uma comoção tomou conta da esquina! O surfista ao meu lado gritou Gabeira, a velhinha mais à frente levantou seu guarda-chuva e vociferou contra os carros, a moça feia se debruçou na janela e gritou Gabeira, pensando que todos olhavam pra ela, os camelôs organizaram o coro: Gabeira! E as duas blazers sairam com os rabos entre as pernas, acelerando forte...

No final dos anos 70, quando frequentava o Colégio São Vicente de Paulo, eu e centenas de jovens nos tornamos militantes de partidos e organizações clandestinas para lutar contra a ditadura. Com a democracia, a militância do PT passou a ser a maior alternativa para a participação política transformadora. O que esta campanha do Gabeira pode estar apontando é para uma nova forma de fazer política. As milhares de pessoas que a campanha conseguiu reunir nesta reta final não se mobilizou espontâneamente, como alguns dizem, mas não obedece às ordens de um comitê central, nem precisam de bumbo e carro de som para se fazer ouvir.

Esta militância que se mobiliza "silenciosamente", por computador, celular e nas rodinhas da esquina, pode estar sendo uma nova forma de se abordar a política e é, independente do resultado final desta eleição, a grande novidade que o Rio trouxe (mais uma vez) para o cenário político. Se o Rio fosse Copacabana, diria que o Gabeira está eleito. Mas como o Rio não é só praia, vamos ver se a onde verde virou Tsunami ou não...

 

 


Enviado por Marcos Cavalcanti -
24/10/2008
-
9:48

Fiapos de afeto

Entra hoje em cartaz o filme Última Parada 174. Graças ao convite de uma grande amiga da época do colégio, que dirige a ONG Uerê, assisti a uma pré-estréia do filme no início da semana. O filme é imperdível! Outros filmes já tinham falado da cidade partida. O próprio episódio do sequestro do ônibus já tinha sido retratado no belíssimo filme 174 (a cena inicial deste filme é um impressionante vôo de helicóptero sobre as favelas do Vidigal e da Rocinha!). Mas o filme de Bruno Barreto tem três coisas que me chamaram a atenção.

Em primeiro lugar conta a história sob um outro ângulo. O filme não é sobre o sequestro do ônibus, mas nos apresenta a história de vida do garoto que sequestrou o ônibus, o Sandro. Em 2000, quando aconteceu o sequestro, éramos expectadores de um acontecimento que parou e chocou a cidade. No filme, vivemos a realidade de milhões de pessoas que teimamos em não querer enxergar.

Em segundo lugar, os atores são todos novatos, não profissionais, mas DÃO UM SHOW!!!!  Os 4 personagens principais, dois homens (Sandro e seu compadre) e duas mulheres (a mãe e a namorada do Sandro), não estão representando. Eles SÃO aquelas pessoas! Um interpretação verdadeira, de corpo e alma! Guardemos os nomes: Michel Gomes (Sandro), Marcello Melo Jr. (Alê), Chris Viana (mãe) e Gabriela Muniz (namorada).

Por fim, o filme apresenta a realidade nua e crua, sem lantejoulas, sem esteriótipos grosseiros e sem um romantismo barato, mas nos mostra que mesmo dentro desta realidade violenta e agressiva ainda subsistem fiapos de afeto, de humanidade. E é com eles que teremos que reconstruir a teia da vida em nossas cidades.


Enviado por Marcos Cavalcanti -
23/10/2008
-
10:00

O Rio de todos nós!

Relutei bastante em expor públicamente meu voto. Primeiro porque as propostas dos dois candidatos me parecem boas. Segundo, porque tenho amigos e pessoas que admiro, não só nos dois lados como propondo voto nulo (ou abstenção). Terceiro, porque futebol, política e religião geralmente provocam, no blog (e fora dele), uma comoção  que raramente instiga à reflexão. E por fim, porque a política profissional não merece que nos ocupemos em demasia dela. 

Por outro lado, os rumos da campanha no Rio não nos permite mais ficar em cima do muro. Os marqueteiros do Eduardo Paes me fizeram concluir que estamos diante de uma escolha entre dois modos de fazer política, de governar uma cidade. 

De um lado um "político de mercado", como muito bem definiu um amigo meu. Sua estratégia é a tradicional: 1) Apresentar milhares de "propostas concretas" para todas as áreas (saúde, educação, trabalho, transporte, etc), das quais apenas duas ou três ele pretende realmente tornar realidade, mesmo assim parcialmente; 2) sua campanha é toda orientada por "gênios do marketing", que dizem como ele deve se vestir, falar, se comportar, transformando o candidato num verdadeiro ventríloquo; 3) a preocupação central dos partidos que o apoiam é a próxima eleição para governador e presidente e o loteamento dos cargos públicos.

De outro, um político que apesar de fazer política por mais de 40 anos não ficou rico com ela; faz campanha sem photoshop, fala o que pensa sem ler textos no teleprompt e se comprometeu a compor um governo com gente séria, sem compactuar com a política corrupta que predomina na Câmara de Vereadores.

Claro que não preciso falar o nome dos candidatos, não é? E é claro também que não sei se vai ser assim se Gabeira for eleito, como não posso garantir que o Paes faria um mau governo. Mas sei o que Gabeira representa simbolicamente em termos de político não tradicional, comprometido com um futuro sustentável e digno para os cariocas. Além disso, ele é uma possibilidade concreta de combater esta máquina corrupta em que se transformou a política em nossa cidade, onde todos estão atrás de uma "boquinha" para se dar bem.

Por isso, dia 26, estou com o Gabeira, para ajudá-lo a fazer o Rio de todos nós!


Enviado por Marcos Cavalcanti -
21/10/2008
-
22:01

A lua é de quem vê!

 

O pôr do sol é de quem olha

Frase de Millor Fernandes, em homenagem ao frescobol, na Praça Sarah Kubitscheck em Copacabana

 

Na terça-feira passada foi um dia de lua cheia e, pela primeira vez na minha vida, vi um coelho desenhado na lua! Ele deve ter estado sempre lá, mas nunca tinha visto. Esta constatação me assustou. Que outras coisas estão (e sempre estiveram) na minha cara e que não vejo?

Sempre achei que os programas de incentivos financeiros são fundamentais para motivar os funcionários de uma empresa: bônus, participação nos lucros, placas comemorativas do empregado do mês, stock options, comissão para os vendedores... como imaginar uma empresa moderna sem este tipo de incentivo? Cerca de três em cada quatro empresas americanas e mais da metade das médias e grandes empresas brasileiras possuem um ou mais destes planos.

Mas uma série de artigos do Alfie Kohn me colocaram a pulga atrás da orelha, e demonstram que isto não passa de um dogma, que não cansamos de repetir sem, de fato, refletirmos sobre ele. Em primeiro lugar o dinheiro não é a coisa mais importante na vida das pessoas. Faço uma pesquisa desde que voltei da França, em 1993, com quase todos os alunos e pessoas que me assistiram falando, sobre o que é mais importante na vida deles: dinheiro, lazer, saúde e trabalho. Existe uma larga maioria (mais de 70% das pessoas) que escolhem SAÚDE como o mais importante e TRABALHO em segundo lugar. Só depois vem o dinheiro.

Mesmo se restringimos nossa pesquisa ao ambiente de trabalho, as pessoas respondem que ter um trabalho interessante e bons colegas de trabalho é mais importante que dinheiro. O curioso é que quando a pergunta sobre o que é mais importante para os funcionários é feita aos executivos, estes respondem que o dinheiro é a coisa mais importante para aqueles. O pior é que passam a administrar a empresa com base nesta visão equivocada.

Nada disto quer dizer que as pessoas não estão nem aí para o dinheiro. Só queria relativizar as declarações peremptórias de que as pessoas só se mobilizam por dinheiro!

Prometo voltar ao tema, pois ele é relevante e polêmico. Assim como o coelho na lua, talvez não estejamos vendo onde está, de fato, a alma do negócio!


Enviado por Marcos Cavalcanti -
18/10/2008
-
14:24

Falar, fazer...

A palavra honestidade é escrita em japonês com dois ideogramas: um significa falar e o outro fazer. É uma ótima explicação para a palavra: ser honesto é fazer o que se fala! Além da atualidade do tema (estamos em pleno processo eleitoral de escolha de nossos prefeitos...), ele ilustra a conversa anterior. Não se trata de falar OU fazer, mas de falar E fazer.

Este é um dos sete valores dos samurais (os outros são justiça, compaixão, coragem, cortesia, honra e lealdade) e qualquer pai/mãe sabe que esta dicotomia entre falar e fazer é trágica para a educação dos filhos. Da mesma forma, os executivos de nossas empresas deveriam ter claro que não basta o discurso. Suas ações têm que ser coerentes com os valores e as estratégias definidas pelas empresas.

Num dos projetos que o Crie fez com a Petrobras, entrevistamos um executivo de uma grande Refinaria, logo após o acidente que provocou um derramamento de óleo na Baia de Guanabara. A empresa estava fazendo um grande esforço de transformação e colocou a preocupação com o meio-ambiente no centro de sua estratégia. Espalharam-se cartazes pela refinaria com os dizeres: "Na dúvida, PARE!". A idéia era deixar claro que a preocupação com a segurança vinha em primeiro lugar. Se o funcionário tinha dúvida sobre as consequências de seus atos, não deveria executá-los. Perguntei ao administrador: " E na dúvida, vocês param?" A resposta dele: "Claro que não! Na dúvida continuamos, porque a métrica pela qual sou avaliado é o número de barris processados!".

O discurso sobre a preocupação ambiental tinha ficado nos papéis espalhados pelas paredes... Não foi para a prática, para o dia-a-dia da empresa. A preocupação com o meio-ambiente e a segurança só se tornou realidade quando os executivos mudaram as métricas e os processos de trabalho. E conseguiram concretizar a mudança não porque ficaram fazendo exortações inúteis do tipo "UhUU! vamos lá gente, eu sei que vocês são capazes" ou porque colocaram capatazes com chicote obrigando as pessoas a trabalhar com cuidado e atenção, mas porque capacitaram as pessoas, criaram um ambiente e métricas alinhadas com a estratégia da empresa.

Hoje a Petrobras é reconhecida como a empresa petrolífera mais segura do mundo, mas só conseguiu isso porque deixou de falar ou fazer. Ela falou E fez.

Que outros exemplos de "ou"s que devem virar "e"s que vocês conhecem???

 


Enviado por Marcos Cavalcanti -
14/10/2008
-
17:56

É OU ou E?

Eu conheci uma espanhola natural da Catalunha
Queria que eu tocasse castanhola
E pegasse o touro à unha
Caramba, caracoles, sou do samba
Não me amoles
Pro Brasil eu vou fugir
Que é isso é conversa mole para boi dormir 

(Touradas em Madri - Braguinha)

O título parece confuso, mas não é, basta lê-lo com aspas: É "ou" ou "e"? Ele me veio à cabeça depois de uma palestra maravilhosa que assisti do músico e escritor José Miguel Wisnik, durante o Recine (Festival Internacional de Cinema de Arquivo), que está acontecendo no Arquivo Nacional, na Praça da República, no Rio de Janeiro. O tema era o futebol, uma das paixões que tenho em comum com o Wisnik.

Para ele, o futebol é uma das únicas "falhas" na estratégia de hegemonia cultural americana. Todo mundo ouve música americana, vê filmes americanos, as empresas são gerenciadas seguindo modelos americanos... Mas o esporte que caiu na preferência dos povos do mundo foi o futebol!

É conhecido o fato da FIFA ter mais países associados que a ONU; em qualquer lugar do mundo que você vá, na América, na Europa, na Ásia ou na África, quando se fala em futebol o primeiro país que todos pensam é o Brasil. Um dos melhores amigos do meu pai, o Amariles, conta que quando esteve em visita à Costa do Marfim (país africano que foi colônia francesa), foi fazer compras numa feira livre e um vendedor tentou vender-lhe um tapete por um preço absurdo. Amariles recusou, mas instigado pelo vendedor apresentou uma contra-proposta, que o vendedor também não aceitou. Acreditando ter encerrado a negociação, continuou o passeio pela feira. Qual não foi sua surpresa quando, ao sair, encontrou o vendedor no meio de uma multidão apontando o dedo para ele e dizendo: "é ele o sem caráter que fez uma proposta e não levou meu tapete!". Não adiantou nada Amariles lembrar-lhe que sua proposta havia sido recusada, pois o vendedor alegou que tinha voltado atrás e que pelas regras locais, as pessoas eram obrigadas a manter a palavra empenhada.

O cerco em torno do amigo de meu pai começou a se fechar de forma cada vez mais ameaçadora. Encurralado e sem argumentos, Amariles resolveu apelar e gritou: "Sou amigo de Pelé!". Ao ouvir estas palavras mágicas a multudão parou. "Você é brasileiro e amigo do Pelé?". Diante da confirmação, as feições se desfizeram e mais de 20 pessoas passaram a endeusar e pedir autógrafos para o amigo do meu pai, que até hoje diz que deve sua vida ao Rei do futebol!!

Mais importante que ser o esporte mais popular do planeta, o que nos interessa ressaltar é o fato do mundo reconhecer o Brasil como A referência mundial no assunto. Wisnik citou, na palestra, um texto do renomado historiador inglês Eric Hobsbawm, onde ele chega a dizer que a seleção brasileira é uma das maiores manifestações de arte no século XX!!

Para Wisnik, o futebol é um ótimo campo para a reflexão sobre os dilemas brasileiros. Nele vemos claramente uma dicotomia que atravessa a história do Brasil entre o princípio do sonho e o da realidade, entre o prazer e a eficiência.  A eterna polêmica entre o futebol-arte versus o futebol-força, entre o futebol da ginga, do drible e o futebol eficiente, entre perder jogando bonito ou ganhar jogando feio perpassa todos os campos da sociedade. Quem já não ouviu, na sua empresa, alguém falar que entre agradar as pessoas ou gerar lucro, o que importa é o resultado financeiro?

Para o poeta e professor da USP, a lógica do ou precisa ser superada: por que precisamos escolher entre o prazer (o futebol-arte) OU a eficiência? Por que não podemos ser artistas E eficientes? Por que escolher entre valorizar as pessoas/ser uma empresa agradável de se trabalhar OU ser uma empresa que dá bons resultados financeiros e é eficiente? Por que não ser uma empresa agradável para se trabalhar, que valorize as pessoas E que dê resultado/seja eficiente? E se tudo isto parece (e é) tão óbvio, por que não acontece no nosso dia-a-dia?

Wisnik encerrou sua palestra ilustrando as consequências desta visão do ou, do tudo ou nada, no imaginário brasileiro, Durante a copa de 1950, a seleção brasileira chegou à final invicta e goleando todos os seus adversários. No jogo contra a Espanha (Brasil 6 a 1!), mais de 100 mil pessoas cantaram (pela primeira vez num estádio uma multidão cantou em uníssono) a marchinha Touradas em Madri, do Braguinha. Na final contra o Uruguai, mais de 150 mil pessoas contavam com mais uma goleada do Brasil. Era isso ou nada. Quando o Uruguai empatou, a torcida calou, os jogadores gelaram e o Brasil parou de jogar. Se não tínhamos o tudo (a goleada), certamente teríamos o nada. E o Brasil, que podia ser campeão com um empate, acabou perdendo para o Uruguai.

Este comportamento que oscila, em questões de minutos, da paixão ao ódio, do tudo para o nada é típico de comportamentos infantis. Os comportamentos mais maduros sabem que o ser humano não é bom ou mal, que a vida não é prazer ou eficiência, sonho ou realidade, branco ou preto. Na maior parte do tempo estamos no cinza: é preto E branco, somos bons E maus, precisamos sonhar e viver a realidade.

Não se trata de escolher entre pegar o touro à unha ou ir para o samba. O nosso desafio e nossa contribuição original para o mundo é a nossa capacidade de pegar o touro à unha sambando...

 


Enviado por Marcos Cavalcanti -
6/10/2008
-
18:58

Trilhas para o Rio

Em meio ao processo eleitoral para as prefeituras, me parece extremamente oportuno o curso que André Urani está organizando no POP (Polo de Pensamento Contemporâneo), no Rio de Janeiro. Na verdade trata-se do evento "Trilhas para o Rio: ciclo de debates sobre a reinvenção do Rio de Janeiro".

Os debates acontecem nos dias 15, 23, 30 de outubro, 6 e 13 de novembro no POP (Rua Conde Afonso Celso 103, Jardim Botânico), sempre de 19h30 às 21h30 e a discussão está baseada nos temas levantadas pelo livro Trilhas do Rio, que o André acabou de lançar pela Editora Campus.

Dia 15/10 - Boom econômico ou baleia encalhada? Em que pé estamos? - André Urani

Dia 23/10 - Redesenhando o espaço público - Giuseppe Cocco (UFRJ)

Dia 30/10 - O Movimento Rio Como Vamos?  - Rosiska Darcy Ribeiro

Dia 06/11 - Redesenhando os territórios: a megalópole como solução para os problemas metropolitantos? - José Luiz Alqueres (Pres. da Light e Vice-presidente da Associação Comercial do Rio)

Dia 13/11 - Enfim capitalismo? - Armínio Fraga (sócio da Gávea Investimentos e ex-Presidente do Banco Central)

É imperdível!


Enviado por Marcos Cavalcanti -
30/9/2008
-
17:13

Quem é mais importante para o Brasil: a VEJA ou Paulo Freire?

 

... Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado, pelas causas que comovem. Elas são muitas, demais: a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária. Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas.”  (Darcy Ribeiro)

 

Durante meu curso de nível médio, no Colégio São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro, conheci o trabalho de um brasileiro admirável: Paulo Freire. Ele foi autor de um método de alfabetização revolucionário, que abandonava a cartilha tradicional do IVO VIU A UVA para adotar palavras saídas do universo do público que seria alfabetizado.

O sucesso de sua metodologia correu mundo e faz de Paulo Freire um dos brasileiros mais respeitados no mundo! Durante meu doutorado na França pude testemunhar, por diversas vezes, o respeito e admiração de todos os acadêmicos franceses (de diferentes visões políticas) pelo trabalho de Freire.

Qual não foi minha revolta ao ler a reportagem publicada pela "revista" Veja de agosto, de autoria de Monica Weinberg e Camila Pereira, onde a dupla de jovens jornalistas, que manifestamente não tinham a MENOR IDÉIA do que (e muito menos DE QUEM) estavam falando, escreveram:  "Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização" (grifo meu).

Já faz muito tempo que não leio a revista Veja, e por um motivo muito simples. Ela se transformou, SEM ASSUMIR CLARAMENTE (o que é mais grave!), num semanário tendencioso e ideológico. Claro que Veja pode professar a ideologia que quiser, só não precisa continuar querendo posar de "isenta" e "independente". Influenciadas pelo clima retrógrado e ideologizado da redação, as jornalistas ultrapassaram os limites do razoável assumindo uma opinião sobre um dos maiores educadores do mundo, sem nem ao menos se preocuparem em colocar esta opinião na boca de alguém. Foram elas mesmas que qualificaram o método como de "doutrinação esquerdista"!

Não vou questionar a autoridade delas para emitir esta opinião. Não acho que ninguém precise ter títulos para dar palpite, mas duvido MUITO que elas, de fato, tenham lido e conhecido o trabalho de Paulo Freire. E aí temos uma grave falha de formação e, pior, uma grave falha da editoria da revista. Uma das regras elementares que é ensinada nos primeiros períodos de qualquer faculdade de jornalismo é sobre a necessidade de se apurar os fatos com as fontes. Foi o que elas NÃO fizeram. Ao invés de conhecerem o trabalho de Paulo Freire, resolveram assumir um discurso pronto, que de há muito impera na redação de Veja, tentando ver comunistas embaixo da cama. No mínimo, um discurso arcaico (e não arcano, como elas usaram, demonstrando desconhecer o significado desta palavra, que é mistério, segredo) e dinossáurico!

A Veja deixou claro qual é o seu lado e quem ela acha que é importante para o Brasil. Eu prefiro ficar do lado de Ana Maria, viúva de Paulo Freire, que escreveu uma carta de repúdio dizendo:

"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas, camufladamente, age em nome do reacionarismo desta. Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.
...
Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade oureligião. (...) Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!
São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire".


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